o problema vai se diluindo junto com o café
18:54
Eu amo café. Alias, é a minha memória favorita da infância. Mesmo
na correria dos dias minha família sempre sentava à mesa lá pelas 17:00 e
tomava café juntos. Quando estávamos brigados, as únicas frases ditas durante o
café eram: “me empresta a faca? Já usou a manteiga? Vai comer o ultimo pão?”
quando estávamos felizes uns com os outros, bebíamos o café, falávamos dos últimos
acontecimentos da novela, do tempo seco e minha mãe aproveitava para puxar
nossa orelha dizendo que nosso quarto estava uma bagunça. Cresci com esse
ritual, não importava se estava tudo bem ou tudo péssimo, todos os dias, às
17:00, os cinco precisavam estar à mesa para tomar o café quentinho. Isso se
tornou parte de mim, hoje em dia não consigo ver minha família todos os dias, a
correria que sempre existiu, ultimamente parece que tem nos engolido, quando
vemos já é a hora do almoço, de repente já é quinta, mal prestei atenção e já
tem luzes de natal pelas ruas. Está corrido pra todo mundo, não é mesmo?
Mas o ritual do café ficou em mim e mesmo nos dias atuais em
que não posso mais tomar café na companhia da minha saudosa mãe e o restante da
minha família está ocupada, nos vemos uma ou duas vezes na semana para o café rápido
e todo mundo volta para o mundo real, mesmo assim, com todas as mudanças, todas
as vezes que eu estou chateada com algo, triste comigo mesma, me sentindo a
pior das pessoas, irritada porque algo não deu certo, pensando em desistir,
sempre me bate uma vontade imensa de passar um café e bebê-lo, é como se
enquanto a água quente desce pelo filtro de papel e o pó vai se diluindo, meus
problemas vão se diluindo junto e eu vou percebendo que não é o fim do mundo, alias,
está bem longe dele. Essa foto ai, onde estou com cara de bolacha e sorriso meio
torto, eu estava tendo uma semana dessas, em que achava que o fim do meu mundo
estava próximo, ai meu noivo me levou tomar café num domingo caloroso. Na mesa,
nós rimos de alguns memes, lembramos das coisas importantes que precisávamos fazer
na semana seguinte, falamos sobre uma exposição linda que tínhamos acabado de
ver. Tá Larissa, mas qual é ponto desse monte de história que você tá contando?
eu plena bebendo meu café sendo apreciada pelo Danilo Bettim <3 |
Na verdade eu ainda não sei, mas ao olhar pra essa foto e
trazer à memória todas as lembranças dos cafés da tarde, eu achei que talvez precisasse
lembrar e quem sabe te lembrar também que nenhum problema por maior que seja,
consegue ser maior que nós ou ser a nossa ruína. Talvez você não esteja aonde
queria estar agora, talvez veja nas redes sociais milhares de pessoas vivendo
dias incríveis, realizando feitos incríveis e tudo que você tem são uns
trocados para beber um café num domingo. Talvez tudo que você tenha seja um
acumulado de sonhos, uma listinha de objetivos para alcançar e um cansaço
imenso por sentir que não sai do lugar. Mas coisas incríveis também podem
alcançar nesse lugar ai onde você esta. Não se engane pensando que você precisa
correr o mundo, riscar cada item da lista e realizar sonho por sonho, você pode
viver uma vida incrível exatamente onde está com o que tem e com quem estão com
você.
Eu aprendi isso ao longo da vida, mesmo que os dias estivessem ruins,
mesmo que não houvesse muito assunto pra conversar, mesmo que estivéssemos com
o interior machucado, todas as tardes sentávamos à mesa e descobríamos, em meio
aos goles de café, uma nova maneira de recomeçar.
Você não precisa estar no topo, você não precisa viver um
conto de fadas, você não precisa ser a pessoa mais incrível do mundo, mas você
deve ser a pessoa mais incrível do seu mundo e ninguém, nenhum problema,
nenhuma dor, nenhum amor, nadinha mesmo, deve ser maior que você.
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